DEPENDÊNCIA QUÍMICA E ALCOOLISMO

11 de abril de 2018

Vivemos numa sociedade onde, infelizmente, lazer e prazer estão associados ao consumo. Por isso, não podemos restringir o problema das DAC – dependências, abusos e compulsões, apenas a fatores psicopatológicos, porque as questões políticas, econômicas e culturais da nossa atual sociedade de consumo também contribuem para essa epidemia onde 5% da população mundial já é usuária de drogas e prevê que em 2100, de acordo com as atuais estatísticas, metade da população mundial será dependente de algum tipo de substancia psicoativa e teremos 1 bilhão de mortes causadas pelo tabagismo ativo ou passivo.

Por outro lado, o sucesso no tratamento da DAC é muito pequeno. Menos de 20% das pessoas que ingressam num programa transdisciplinar conseguem a abstinência, geralmente depois de passarem, no mínimo, por duas recaídas. Por isso, associo os transtornos de DAC a questões psicossomáticas.

É importante deixarmos claro que psicossomática não é um adjetivo de uma queixa ou de um sintoma qualquer, sejam eles físicos, psíquicos, sociais, ecológicos, etc. Em nossos cursos, ministrados na FACIS, insistimos muito que a nossa condição de vida é psicossomática e, nesta premissa, não podemos limitar nossos estudos exclusivamente na busca reducionista das causas das doenças. Precisamos ir além das causas, buscamos o sentido, ou seja, para onde aquele sintoma pode estar apontando, que caminho de evolução pode haver nele? Conseqüentemente, ao invés de procurarmos uma explicação generalista e reducionista sobre as causas dos sintomas e das doenças, tentamos compreender sua manifestação na totalidade de cada ser, no processo evolucional e individual.

O alcoolismo, assim como todas as adições e dependências, é simultaneamente um sintoma individual e social, registrado histórica e antropologicamente há milênios. A grande pergunta é: Por que a humanidade busca experiências com substancias psicoativas que produzem estado alterado de consciência? É uma busca de alívio, saídas, encontros ou desencontros com o si mesmo? As experiências de picos e de vales, produzidas por qualquer adição, nos deixam perplexos e nos remete a hipotetizar uma série de causas, mas na raiz de qualquer justificativa, o que temos como resultante é a falta de sentido e de significado existencial. Ou seja, existem muitos fatores que influenciam uma adição. É um absurdo buscarmos uma causa única, predisposições genéticas, ancestrais, sociais, familiares e vivenciais, contribuem para a dependência. É preciso compreender e confortar ao invés de buscar culpa ou culpados.

A falta de sentido existencial acontece quando o indivíduo está alienado de si mesmo. Ou seja, perdeu a referencia da sua essência e, conseqüentemente, da sua vocação. Neste caso surge o mau destino e todos os eventos desastrosos e trágicos, porque que não tem consistência da sua trajetória existencial, se desconectou do plano astral, ficando a mercê do catastrófico.

Os profissionais de saúde, por convenção, estabelecem que a dependência química implica na necessidade psíquica do indivíduo frente a adição, e o vício é o estágio mais avançado da dependência química, onde o organismo já não consegue funcionar adequadamente sem a presença da substância de adição. Mas, tanto o dependente químico como o viciado são indivíduos doentes que necessitam de tratamento. Ninguém está nessa por vontade própria, com lucidez e consciência plena.

A idéia de cura é muito complexa e de grande ambigüidade. Por exemplo, em função de nossa experiência e de nosso conhecimento em homeopatia e psicologia junguiana, cremos que é possível morrer curado. Mas, filosofia aparte, é inconcebível acreditar que apenas uma droga poderia curar a dependência de outra droga. Nossa experiência aponta para um tratamento transdisciplinar, preferencialmente o menos invasivo possível. Lá na FACIS nós temos homeopatas, psicológicos, acupuntures, enfim uma grande quantidade de profissionais que buscam a integridade do ser e não a aparente remissão dos sintomas.

As adições são doenças com características de comorbidade e codependência, desta forma nada que aja isoladamente pode ser eficaz. A cura depende de muitas intervenções nos aspectos pessoais, psíquicos, físicos, sociais, familiares e até espirituais. Porém, sem o real compromisso do dependente quase nada se pode fazer. Toda intervenção arbitrária e truculenta acaba gerando mais problemas e danos do que cura. Paciência e amor são as ferramentas essenciais para o sucesso do tratamento.

É preciso muito diálogo, muita sinceridade e muita disponibilidade para enfrentarmos um mundo tão desigual e sem perspectivas. Os vínculos estão sendo substituídos por eficácia e pelo acúmulo de bens. Os valores afetivos estão ficando em segundo plano. Nossos jovens estão perdidos e completamente diluídos frente a tantas demandas. Precisamos dar possibilidades criativas, sentimento de pertença e auto-estima mais elevada aos jovens. Estamos assistindo uma crescente falta de entusiasmo para a vida. O grande desafio que temos para o futuro da humanidade é o engajamento entusiástico dos jovens para com as questões sociais e ecológicas. Sem isso teremos uma sociedade individualista, buscando um prazer hedônico e sem sentido. A dessacralização e o desencantamento do mundo, provocado pelo utilitarismo materialista e racional deve ser repensada.

Encerro esse artigo lembrando que em 1996, a Unesco (Organização da Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), divulgou um estudo mundial sobre a educação, desembocando nesses quatro pilares: Aprender a ser; Aprender a conviver; Aprender a aprender; e Aprender a fazer; Observe que tudo começa pelo autoconhecimento, só assim que uma política capitalista, não predatória, e liberal poderá contribuir para um cenário onde a diferença entre empreendedores e população não seja tão desigual e desumana

* WALDEMAR MAGALDI FILHO (www.waldemarmagaldi.com). Psicólogo, especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Homeopatia. Mestre e doutor em Ciências da Religião. Autor do livro: “Dinheiro, Saúde e Sagrado”, coordenador dos cursos de especialização em Psicologia Junguiana, Psicossomática, DAC – Dependências, abusos e compulsões, Arteterapia e Expressões Criativas e Formação Transdisciplinar em Educação e Saúde Espiritual do IJEP em parceria com a FACIS. wmagaldi@gmail.com


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